sábado, 11 de julho de 2009

Monólogo de um Vampiro Psíquico



“Sou o Espírito da treva, a Noite me traz e leva; moro à beira irreal da Vida...".

Eu sou o mais tenebroso de todos os Vampiros.

Não sinto gozo somente perfurando sensíveis membranas de jugulares virginais para sentir o sabor de hemoglobina. Embora algum débil tenha afirmado que "a alma da carne esteja no sangue", e que sangue é vida, no meu entendimento psicossomático, vejo a manifestação da alma na mente, e ela é minha!

Não preciso sujar minhas presas, nem beber sangue, para sugar a seiva anímica de alguém.

Para manter a minha eternidade, Eu sugo almas, esta é uma forma mais refinada de alimentação.

Meu prazer consiste em devorar os centros; intelectual, motor, instintivo, emocional e sexual de cada ser humano. Invado as profundezas de cada vítima, em busca da pedra oculta.

Ao drenar estes centros, tenho o poder de criar ilusões, manipular, ler pensamentos...

Tenho visão telepática, e utilizo a arte psicomântica e o poder de cura, e de destruição para o meu benefício.

Como os outros Vampiros, sou capaz de me transformar em qualquer espécie de animal: morcego, lobo, cão, pássaro... Bem como em criaturas estranhas e imaginárias.

Intimamente, sou o Leão que ruge, procurando a quem devorar. No entanto, prefiro me transformar num homem comum, ou no líder religioso, no político eloqüente, ou nas letras escritas por um ávido Escritor.

A cruz, A Bíblia e o alho não me afugentam. Pelo contrário, bebo água benta para aliviar minhas ressacas, e nas procissões Eu sou o Luciferário.

Sou um manipulador da fé, pois dessa forma consigo atrair mais vítimas. Monto belíssimas igrejas e ofereço conforto espiritual e material em programas de televisão, tudo em nome de Deus.

Nenhuma Lei dita sagrada é verdadeira para mim; nenhum dogma consegue deter minha voz.

"Eu deixo para trás todas as normas que não levam ao meu sucesso e alegria terrenos. Eu me ergo impassível comandando a invasão da lei do mais forte!

Eu olho dentro dos olhos vítreos do seu terrível Deus e o agarro pelas barbas; eu ergo um machado e então racho seu crânio devorado por vermes!

Eu me liberto do sepulcro formado por conteúdos doentes de filosofias vãs e gargalho com um sarcasmo cheio de ira".

Gosto de me aproximar, de abraçar, de apertar as mãos de minhas vítimas. Para inflar o meu peito em ardente escárnio.

Sejam eleitores imbecis ou fiéis idiotas, sempre os trato com o carinho de uma mãe para com o seu filho único, antes de devorá-los.

Proporciono à minha vítima escolhida, imagens de paz e amor, bondade, prazer e luxúria. De acordo com o temperamento, proporciono as imagens que ela sempre gostaria de ver, e faço-a sonhar. E abraço-a como um amante.

Então, começo a sugá-la, não sugo muito, pois a vítima pode ficar muito debilitada. Ou até morrer, o que não é o meu objetivo, pois preciso de escravos para o meu séquito.

Quando encontro alguém que me agrada, procuro olhar fixamente nos seus olhos. Penetro vorazmente no fundo de seu inconsciente.

Ao dormir, ela passa a ter sonhos gozosos, que permanecem por alguns dias, até que cedo ou tarde, ela me convida para a sua cama.

Então, ofereço-lhe alegrias inimagináveis, paz indescritível, êxtase... A cada gemido de prazer e dor, me sinto mais forte. Esta é a minha forma preferida de exaurir.

Sem energia, sem vontade, a vida torna-se um fardo. A depressão tornar-se constante companheira. E tudo parece dar errado, quando Eu não estou presente.

Os familiares e amigos são abandonados, largados ao mofo. Os pesadelos tornam-se freqüentes. Nada neste mundo parece real.

A percepção fica alterada, e seus valores invertidos.

"As poderosas vozes da minha vingança arruinarão a calmaria do ar e se manterão como monólitos de fúria mortal sobre um solo de serpentes retorcidas. Eu me torno uma monstruosa máquina de aniquilação para aqueles fragmentos ulcerosos do corpo daquele que tentou deter-me".***

Desejo apenas que se multiplique a dor causada pela minha crueldade.

E o sono, o sono...

O belo artifício da morte começa envolver como um cobertor numa noite fria.

Então, continuará pensando que sou coisa da imaginação humana.

E como se Eu me sentisse vivo novamente, Continuarei existindo.

Na busca do amor...

Que procuro, mas não tenho por quem chorar.

Nem com quem sorrir...

O beijo...

E o corpo que por alguns instantes me fez se sentir vivo...

Não mais...

E já que não posso amar...

Agradeço por ter me convidado a entrar em sua mente.

E ter aberto a sua alma para que Eu pudesse penetrá-la devagar.

Daqui por diante, você carregará também esta lúgubre maldição.

E "Viverá! Viverá doravante sobre esta estranha ponte, que começa onde acaba a vida e termina onde começa a morte".

Pois mesmo quando Eu, quebrando a roda do Samsara, e definitivamente adentrar no fundo do abismo do espaço, sempre estarei em você, e naqueles que lerem ou ouvirem as minhas insalubres palavras.


Assim Falava Zaratrusta (Zoroastro)


“De todo o escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu com o seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito.

Não é fácil compreender sangue alheio: eu detesto todos os ociosos que lêem.

O que conhece o leitor já nada faz pelo leitor. Um século de leitores, e o próprio espírito terá mau cheiro.

Ter toda a gente o direito de aprender a ler é coisa que estropia, não só a letra mas o pensamento.

Noutro tempo o espírito era Deus; depois fez-se homem; agora fez-se populaça.

O que escreve em máximas e com sangue não quer ser lido, mas decorado. Nas montanhas, o caminho mais curto é o que medeia de cimo a cimo; mas para isso é preciso ter pernas altas. Os aforismos devem ser cumieiras, e aqueles a quem se fala devem ser homens altos e robustos.

O ar leve e puro, o próximo perigo e o espírito cheio de uma alegre malícia, tudo isto se harmoniza bem.

Eu quero ver duendes em torno de mim porque sou valoroso. O valor que afugenta os fantasmas cria os seus próprios duendes: o valor quer rir.

Eu já não sinto em unísono convosco; essa nuvem que eu vejo abaixo de mim, esse negrume e carregamento de que me rio, é precisamente a vossa nuvem tempestuosa.

Vós olhais para cima quando aspirais a vos elevar. Eu, como estou alto, olho para baixo.

Qual de vós pode estar alto e rir ao mesmo tempo?

O que escala elevados montes ri-se de todas as tragédias da cena e da vida.

Valorosos, despreocupados, zombeteiros, violentos, eis como nos quer a sabedoria. É mulher e só lutadores podem amar.

Vós dizeis-me: “A vida é uma carga pesada”. Mas, para que é esse vosso orgulho pela manhã e essa vossa submissão, à tarde?

A vida é uma carga pesada; mas não vos mostreis tão contristados. Todos somos jumentos carregados.

Que parecença temos com o cálice de rosa que treme porque o oprime uma gota de orvalho?

É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor.

Há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na loucura.

E eu, que estou bem com a vida, creio que para saber de felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens.



Ver revolutear essas almas aladas e loucas, encantadoras e buliçosas, é o que arranca a Zaratustra lágrimas e canções.

Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar.

E quando vi o meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo e solene: era o espírito da gravidade. Por ele caem todas as coisas.

Não é com cólera, mas com riso que se mata. Adiante! Matemos o espírito da gravidade!

Eu aprendi a andar; por conseguinte corro. Eu aprendi a voar; por conseguinte não quero que me empurrem para mudar de sítio.

Agora sou leve, agora vôo; agora vejo por baixo de mim mesmo, agora vive em mim um Deus”.

Assim falava Zaratustra

A Arte de Aprender Dormindo


Estudante A:
Há algum tempo, venho estudando com regularidade a teosofia clássica de H. P. Blavatsky. Mais recentemente, começaram a surgir idéias inspiradoras em minha mente no momento em que estou acordando. Outras vezes, isso acontece quando estou para adormecer. Compreensões, percepções, e até frases inteiras vêm à minha mente. Algumas delas são respostas para perguntas. Outras são maneiras de entender e de explicar questões relacionadas à vida, ao ser. São idéias sobre situações abstratas. Em geral, porém, não consigo fixá-las na memória. Você tem idéia sobre como, ou por que motivo, ocorre isso?
Estudante B:
O estudo calmo e profundo de teosofia, feito com regularidade, não muda só a qualidade de vida em estado de vigília. Ele transforma também a qualidade e a substância do sono e dos sonhos do estudante.
Cedo ou tarde, o aluno começará a ter acesso a ensinamentos “essenciais”, em dimensões sutis, enquanto seu corpo está adormecido. A expansão de consciência durante o estudo em estado de vigília permite alcançar novos níveis de libertação enquanto o corpo está adormecido.
Na verdade, o aprendizado do eu superior inclui planos da realidade que só se pode vivenciar quando o “eu” está fora do corpo. O resultado deste aprendizado sutil “desce” como um orvalho sobre o cérebro físico, quando este desperta; mas o faz com tamanha suavidade que não é fácil registrá-lo em palavras, nem lembrar dele com precisão. É verdade que, depois de vários anos de estudo de teosofia, esta dificuldade tende a diminuir pouco a pouco. Porém, mesmo quando o cérebro físico capta alguma coisa do processo, ele só consegue trazer uma “fatia” estreita e limitada do que realmente ocorreu em níveis mais sutis. Felizmente, nada se perde do ensinamento ou das vivências “fora do corpo”. O que se aprendeu no plano sutil vai inspirando “por osmose” a vida do indivíduo em vigília, à medida que ele avança no estudo e na reflexão da filosofia teosófica. A vida em vigília passa a ter uma relação renovada com a vida durante o sono e o sonho. A aprendizagem espiritual abrange então as 24 horas do dia. Mais cedo ou mais tarde, todo estudante dedicado desperta para este processo.
Estudante A:
O aprendizado ocorre de modo individual e isolado, ou o aprendiz pode receber ajuda?
Estudante B:
Nenhum estudante sério de teosofia está interiormente isolado ou esquecido. Ao mesmo tempo, a ajuda sutil a receber depende do seu discernimento, do seu esforço, e do seu mérito. Ele deve ajudar para ser ajudado. E não será ajudado “por alguém”, mas sim pela Vida mesma, pela Lei, ainda que seja através de uma ou mais pessoas.
Em “Cartas dos Mahatmas”, vemos uma passagem em que um Raja-Iogue dos Himalaias menciona alguns dos meios pelos quais os Mestres se comunicam com seus discípulos leigos e com pessoas de boa vontade .em qualquer lugar do mundo. Entre eles, está a técnica de colocar idéias ou “sementes de idéias” junto à aura do aprendiz, de modo que ele as perceba ao despertar.[1] Mas o mais frequente, quando temos idéias inspiradoras ao despertar, é que elas sejam impressões vindas de processos meditativos ocorridos durante o sono, e que se imprimam por um momento, de modo ainda que tênue, sobre o cérebro físico.
No entanto, os Mestres também podem usar este sistema de comunicação. Existem “discípulos leigos inconscientes”. Mesmo sem ter uma clara consciência cerebral deste fato, estes aprendizes “inconscientes” participam da corrente “astral” de consciência coletiva altruísta, anônima e planetária dos Mestres e seus Discípulos. Eles tomam parte desta corrente sutil de “boa vontade planetária” enquanto seus corpos estão adormecidos. Eles fazem isso com plena autonomia e livre arbítrio, mas, por diversos motivos, que dependem das circunstâncias e do seu carma individual, ao acordar não lembram do processo em seu cérebro físico.
Assim, a consciência cerebral dos vários tipos de vivência espiritual durante o sono ocorre apenas em uma pequena parcela dos casos. Há um grande número de razões para que estes fatos sutis raramente sejam captados pelos mecanismos mais conhecidos do cérebro físico.
Estudante A:
Quais são as razões?
Estudante B:
Um dos motivos é que o nível comum do cérebro só consegue registrar informações de modo visual ou verbal. Ocorre que tanto o que é visual (imagem) como o que é verbal (som) dependem dos cinco sentidos, mesmo que a imagem e o som sejam subjetivos. Estes são processos que têm uma relação estreita com o hemisfério cerebral esquerdo; porém, os ensinamentos e as vivências realmente espirituais estão acima de todo som, toda palavra e toda imagem, e ocorrem sobretudo no hemisfério cerebral direito.
Quando o aprendiz consegue colocar em palavras algo da inspiração recebida durante o sono-sonho, ele é consciente de que, ao registrar no papel, ele deixa de fora a maior parte do que foi essencialmente captado ou “percebido” por ele ao acordar. A diferença entre o relato ou memória e a percepção em si mesma é como a diferença entre olhar diretamente o nascer do sol, pela manhã cedo, ou ver uma descrição escrita e detalhada do nascer do sol, no jornal do dia seguinte. A descrição e a memória podem ser úteis, sem dúvida: mas serão sempre um pálido reflexo do fato que tentam registrar. Por isso, o mais importante, para alguns, é capturar a “sensação espiritual” e não tanto transformar aquela percepção complexa em palavras precisas. A “sensação” sintetiza tudo. Para outros, porém, o mais eficiente é dormir com papel e caneta ao alcance da mão, na mesa de cabeceira, e tomar nota das idéias que surgem quando sua consciência está na fronteira entre o sono e a vigília. Cada um deve experimentar e descobrir o que é mais eficiente em seu caso. Em algumas situações, as imagens e “lições” podem “acordar” o estudante no meio da noite, como se algo nele soubesse que elas devem ser anotadas. Vários tipos de idéias, decisões e percepções podem surgir deste modo. O motivo é simples: o estudo calmo e regular da teosofia clássica amplia no aprendiz o contato entre os estados de consciência do sono, do sonho e da vigília. As “paredes divisórias” entre a vigília e o sonho se tornam mais finas. Por isso Damodar Mavalankar e William Judge escreveram sobre processos de meditação integral, que ocorrem ao longo das 24 horas do dia. São os mais eficazes.
NOTA:
[1] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, volume I, Carta 5, página 60. A expressão usada pelo Mahatma é “impressões ao despertar”.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Uma Breve Introdução Sobre os Vedas


Basicamente os Vedas são as quatro escrituras básicas (Rg, Yajur, Sama e Atharva-Vedas), os Puranas (cujo principal é o Srimad Bhagavatam), os épicos - o Mahabharata (do qual o Bhagavad-gita é a seção mais importante) e o Ramayana, os Upanishads, os Sutras (mais famosos sendo o Vedanta Sutra e o Yoga Sutra), as ciências auxiliares (ayurveda, astrologia, etc.) e os comentários ou livros escritos pelos grandes mestres baseado nesses textos.

As quatro escrituras, Rg, Yajur, Sama e Atharva-Vedas, descrevem os elaborados rituais e mantras usados na religião do povo nos tempos védicos, que se centrava na adoração de semideuses (ou deuses da natureza). Assim, como encontramos praticamente em toda a parte do mundo antigo (Grécia, Roma, Egito, Norte da Europa, América do Sul, etc.) a adoração de seres como o deus do sol, deus dos ventos, do mar, etc., também encontramos exatamente isso como sendo a religião popular da época védica. Por envolverem intricados rituais que não são mais seguidos, essas quatro escrituras não são úteis atualmente. Nelas praticamente não encontramos a verdadeira jóia do conhecimento e práticas espirituais de auto-realização em yoga, em puro amor ao Senhor Supremo.

Os Upanisads são muito em número (mais de 108). São tratados filosóficos sobre a Verdade Última, sobre a Realidade. Entre os Upanishads, um dos mais importantes é o Sri Isopanishad (disponível em Português impresso e em áudio MP3). Ele se destaca por ser o único que é diretamente parte de uma das quatro escrituras básicas, sendo parte do Yajur Veda.

O Srimad Bhagavatam é o Purana mais famoso e um livro de espantosa beleza, profundidade, riqueza, filosofia e sabedoria. Ele revela em grande detalhe a natureza de Deus, da alma, do “reino de Deus”, do mundo material, do processo de auto-realização, do problema e inutilidade inerente da adoração de semideuses e importância de buscar Deus acima deles, do efeito da consciência na matéria e vice-versa e muito mais. O livro tem 12 Cantos, com mais de 14 mil versos. Sua versão traduzida e comentada por Srila Prabhupada contém 19 mil páginas e está disponível em Português.

O Bhagavad-gita tem toda uma posição especial dentre os Vedas (ou literatura védica), pois apresenta o aspecto mais refinado da filosofia e prática espiritual védica - o caminho da auto-realização em yoga. É um resumo de toda a espiritualidade e filosofia da cultura védica. É o texto mais importante sobre yoga e auto-realização e é aceito como o livro base da tradição da espiritualidade e religião da Índia.

No Bhagavad-gita se descrevem as diferentes etapas do caminho do yoga (karma, jnana e bhakti). De todas as práticas de yoga, Krisna explica no Bhagavad-gita, no verso 6.47, que a prática superior é bhakti-yoga (yoga com devoção ou consciência de Krishna). A conclusão do Bhagavad-gita é que a essência de todo o conhecimento védico é a pura consciência de Krishna. Essa declaração encontramos no Capítulo 15, verso 15, onde Krishna diz, “Através de todos os Vedas, é a Mim que se deve conhecer. Na verdade, sou o compilador do Vedanta e sou aquele que conhece os Vedas.”.

Fonte: http://giridhari.com.br/introducao/o-que-sao-os-vedas/

As Expectativas “Mágicas” Em Relação Ao ano de 2012 Não Têm Base na Tradição




O mundo não vai acabar em dezembro de 2012. Não há verdade nas previsões atribuídas a um Calendário Maya, segundo as quais uma grande catástrofe terminará o mundo tal como o conhecemos, às vésperas do Natal daquele ano. Mas a profecia chama de certo modo atenção para o tema de fundo, que é a inegável necessidade de uma forte mudança de rumo no atual processo civilizatório.
Embora a data não deva ser levada a sério, o ano de 2012 pode ser visto como um indicativo simbólico da verdadeira transição, que é gradual e complexa, demora séculos, e merece ser investigada como tal.
Desde os primeiros tempos do cristianismo, marcar data e hora para o apocalipse tem sido uma atividade constante, tradicional, e em alguns casos economicamente rentável. Marcar hora para o final do mundo vem sendo uma ilusão auto-renovável, e também um modo prático de chamar atenção do público, pelo menos até a chegada da “data fatídica”.
É oportuno esclarecer, desde já, que não há qualquer menção ao ano de 2012 na tradição Maya em si mesma. Tampouco seria correto exagerarmos a sabedoria da civilização maya, da América Central. A visão do ano de 2012 como momento de alguma súbita transformação mundial resulta das especulações pessoais do pensador José Arguelles, feitas nas últimas décadas do século 20 e possivelmente baseadas em alguns dados astrológicos. Basta investigar as origens do suposto “calendário maya” apontando para 2012, para ver que a única fonte destas supostas informações é Arguelles. Também é fácil perceber que as profecias são de um conteúdo simples e ingênuo.[1] Depois de fazer uma idealização fantasiosa da cultura maya, Arguelles atribuiu a ela as suas próprias profecias. Seguidores de Arguelles, seguramente com boas intenções, continuam aprimorando o trabalho de produzir e lançar profecias de curto prazo, imaginativas mas sem conteúdo durável. Elas servem no máximo como um alerta geral no sentido de que “algo de importante está acontecendo com nossa civilização”.
É verdade que vivemos uma transição mundial complexa e importante. Ela tem fortes dimensões culturais, políticas, militares, econômicas, ecológicas e espirituais. É possível que ocorram grandes transformações, inclusive climáticas e geológicas, nos próximos anos e décadas. Podemos dizer que tais transformações já começaram. No entanto, a marcação de uma data única para acontecimentos extraordinários simplifica o processo indevidamente e tende a colocar os cidadãos na posição de espectadores diante do “espetáculo do fim do mundo”, o que é inteiramente equivocado.
Não há nem pode haver espectadores na atual transição planetária, que é na verdade um despertar em escala global. Os pensamentos e as ações de cada ser humano fazem parte da grande força resultante que determina a qualidade e o modo exato da mudança. Deixando de lado a busca do espetáculo externo, devemos assumir nossas responsabilidades pessoais pela transformação e cultivar a arte de agir corretamente, tanto no plano individual como no plano coletivo.
A marcação de uma data precisa e única para o “fim do mundo” ou para qualquer transição mundial súbita resulta da ansiedade pessoal de pessoas desinformadas. A observação isenta da evolução humana confirma a tese da filosofia esotérica: as transições de era ocorrem gradualmente e ao longo de séculos. O tema dos ciclos de evolução merece uma investigação calma e atenta. Para isso, a filosofia teosófica original possui uma vasta literatura de grande valor, algo que todo leitor pode e deve verificar por si mesmo.
Segundo a teosofia, os limites numerológicos entre as eras, assim como o início e o final dos períodos de transição, são dados matemáticos abstratos. Em torno destes limites, desdobra-se uma transição cármica que possui um ritmo próprio. As eras e ciclos são como a escada e o corrimão que sinalizam o caminho e dão o rumo para que a evolução faça a subida até novos patamares de consciência. Escada e corrimão – o plano divino da evolução – dão as condições e o apoio necessários. Mas não predeterminam exatamente de que modo o peregrino, a humanidade, avançará pelos degraus. Vejamos mais algumas poucas informações a respeito, em sete pontos numerados.
1) Em sua obra “A Doutrina Secreta”, H. P. Blavatsky afirma que os períodos de transição entre uma era e outra correspondem a dez por cento da duração da era.
2) Em outro contexto, H.P.B. escreveu que o início da era de Aquário ocorre no ano de 1900. A duração da era de Peixes e da era de Aquário é de 2.155 anos, segundo a filosofia esotérica. Calculando os dez por cento, podemos deduzir que há um período de transição de 215 anos e meio entre as duas eras, que deve ser dividido em duas metades, uma anterior e a outra posterior ao ano de 1900.
3) A metade exata de 215 anos e meio fica entre 107 e 108 anos, quase chegando a 108. O número 107 corresponde a um dos ciclos ocultos mencionados nas “Cartas dos Mahatmas”. O número 108, por sua vez, é sagrado na Índia. Há 108 contas no rosário hindu e budista. Há 108 Upanixades. Atribui-se ao número 108 um significado astronômico ligado à lua. Os budistas veneram 108 Arhats ou sábios. O número 108 tem importância especial para a Cabala e a tradição hermética ocidental. [2]
4) Retrocedendo 108 anos a partir do ano de 1900, encontramos o ano de 1792. Naquele momento a revolução francesa estava em sua plenitude, e a revolução norte-americana de 1776 havia-se consolidado havia pouco. A transição para a era de Aquário começa com os ideais libertários e fraternos daquelas duas revoluções, e também, sem dúvida, com o humanismo iluminado do filósofo Immanuel Kant, no mundo germânico. No Brasil, cabe lembrar, o herói e visionário aquariano da independência nacional, alferes Tiradentes, é morto em 1792.
5) Por outro lado, se somarmos 108 ao ano de 1900, teremos o ano de 2008, um ano em que o despertar da consciência planetária já estava ocorrendo em grande escala. Portanto, do ponto de vista esotérico, a transição foi completamente terminada e estamos em plena era de Aquário. Faltam agora alguns acertos cármicos no plano visível, que podem ser mais ou menos difíceis.[3]
6) É certo que não há um “momento único de transição total”. Nem existirá necessariamente uma grande catástrofe súbita. Catástrofes globais não estão descartadas entre 2009 e 2025. Mas a marcação de datas para um suposto “momento único” não desperta nem esclarece pessoa alguma. Apenas cria uma curiosidade ansiosa sobre fatos espetaculares, mas imaginários, e reduz as pessoas à condição de espectadores passivos.
7) Na verdade, é através da confiança no futuro de longo prazo, e do calmo bom senso, que despertamos para a ação correta no presente. O momento histórico que vai de 2008 a 2025 estimula o despertar de cidadãos planetários ativos, que vivenciem um sentimento lúcido de co-responsabilidadepela transição mundial. Necessitamos de cidadãos dotados de uma visão de longo prazo e construtiva. A nova consciência planetária deve ser realista e capaz de atuar no mundo, mas deve estar ligada à prática do estudo e da contemplação das grandes verdades universais. E a nova consciência não pode ser separada do exercício diário do bom senso.
NOTAS:
[1] Veja as profecias equivocadas para o final da década de 1990, no livro intitulado “2012 – A Profecia Maya”, de Alberto Beuttenmuller (Ed. Ground, SP, 1996, 286 pp.). Examine também a nota publicada a respeito na revista “Veja” de 4 de fevereiro de 2009, pp. 90-91.
[2] “Espiritualidade Através dos Números”, de Georg Feuerstein, Ed. Siciliano, 218 pp., 1994, pp. 194-195.
[3] Para um enfoque teosófico mais amplo da atual transição mundial em relação aos ciclos e eras da evolução humana, veja o artigo “The Hundred-Year Cycle and the Twilight of the Pisces Age” de Carlos Cardoso Aveline, publicado na revista internacional “FOHAT”, Canadá, edição de inverno de 2008-2009 (verão de 2008-2009 no Brasil), pp. 82 e seguintes. O texto também está publicado na seção “Climate Change and the New Planetary Cycle”, do website www.filosofiaesotérica.com , sob o título “The Twilight of the Pisces Age”.
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Os interessados em um estudo regular da teosofia original devem escrever para lutbr@terra.com.br e perguntar como é possível acompanhar os trabalhos do e-grupo SerAtento, de YahooGrupos