segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Religião Aquariana

Um Sonho Antigo Pode Florescer no Século 21

Como será a religiosidade do futuro? E qual será o papel do Brasil – tradicionalmente chamado de “o país do futuro” – no processo do seu surgimento?
Não há uma resposta pronta para a segunda pergunta, mas a questão é oportuna. Ela deve ser investigada e debatida pelos pioneiros interessados no tema.
Em relação à primeira pergunta, a teosofia clássica ensina que a religião do futuro será planetária. Ela não terá dogmas ou rituais. Ela será desburocratizada. Estará aberta à livre expressão individual e isenta de sacerdotes assalariados. A religião do futuro será uma religião-filosofia. Sem donos ou papas, ela respeitará a diversidade cultural dos povos e será uma religião da natureza. Levando em conta que a vida está dinamicamente presente em tudo o que existe, ela ensinará a unidade e a harmonia entre o espírito e a matéria. Ela também ensinará que a consciência dirige a matéria e não o contrário. A base desta religião será a compreensão prática do fato da fraternidade universal.
Nas obras de Helena Blavatsky e nas Cartas dos Mahatmas encontramos uma formulação moderna e abrangente da religião do futuro. Pouco antes de Blavatsky, Eliphas Levi ajudou a preparar o seu enunciado. Porém, no plano do espírito, as bases da religião do futuro vêm sendo construídas há milênios. A ideia da cidadania planetária era proposta por Pitágoras e Demócrito na Grécia antiga, e também por Lúcio Sêneca no império romano. Demócrito afirmava que a pátria da boa alma é todo o universo.[1] O imperador romano Marco Aurélio agia conforme a religião do futuro. E muito antes de Marco Aurélio, o imperador Ashoka fez o mesmo na Índia.
À medida que passava o tempo, o sonho se tornava mais concreto. O iluminismo do final do século 18 foi um ponto forte do processo. Em 1795, Immanuel Kant propôs a religião do futuro ao escrever o seu tratado sobre a paz perpétua. Este foi o primeiro rascunho e a concepção inicial do que é hoje a Organização das Nações Unidas.[2] Karl Dietrich Krause, o filósofo kantiano alemão, aprofundou a proposta da fraternidade universal. Inúmeros pensadores e ativistas trabalharam nesta linha ao longo do tempo; mas, para florescer, a religião do futuro ainda terá que derrubar o muro separatista dos dogmas sustentados pelas igrejas e seitas das diversas religiões. Será preciso fazer isso de modo fraterno. As chaves para o cumprimento desta tarefa foram estabelecidas no século 18. O livro 'História da Civilização Ocidental', de Edward McNall Burns [3], descreve da seguinte maneira o Deísmo, uma das principais correntes filosóficas do iluminismo:

“A mais notável filosofia religiosa [do Iluminismo] foi o deísmo. Parece que quem deu origem a esta filosofia foi um inglês de nome Lord Herbert of Cherbury (1583-1648). No século XVIII, as doutrinas deístas foram propagadas por homens como Voltaire, Diderot e Rousseau, na França; Alexander Pope, Lord Bolingbroke e Lord Shaftesbury , na Inglaterra; e Thomas Paine, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, na América. Não satisfeitos em condenar os elementos irracionais da religião, os deístas chegaram à denúncia de qualquer forma de fé organizada. O cristianismo não foi mais poupado que as outras religiões. As religiões instituídas eram estigmatizadas como instrumentos de exploração, que velhacos espertos tinham inventado para possibilitar-lhes a manipulação das massas ignorantes. Voltaire dizia: ‘O primeiro teólogo foi o primeiro espertalhão que encontrou o primeiro tolo’.”[4]

Voltaire é conhecido por sua maneira irreverente de escrever. Os deístas acreditavam em “Deus”. Porém o seu conceito de Deus correspondia ao que a teosofia universal chama de Lei UniversalouPrincípio Supremo. Trata-se de algo impessoal, destituído de atributos, e sobre o qual é inútil especular verbalmente ou com o raciocínio convencional do hemisfério cerebral esquerdo. Este mesmo princípio abstrato é chamado de Tao no primeiro verso do clássico chinês “Tao Te King”.
Edward Burns prossegue:
“Os objetivos dos deístas não eram porém todos destrutivos. Não se interessavam somente em destruir o cristianismo, mas em construir uma religião mais simples e mais natural para substituí-la. Os dogmas fundamentais dessa nova religião eram mais ou menos os que se seguem: 1) Há um Deus que criou o universo e ordenou as leis naturais que o controlam; 2) Deus não intervém nos negócios do homem, neste mundo: ele não é um Deus caprichoso, como o deus dos cristãos e judeus, que dá ‘uma oportunidade para o bem e outra para o mal’, segundo seus caprichos momentâneos; 3) Oração, sacramento e ritual são meros absurdos inúteis; Deus não pode ser enganado ou subornado para violar as leis naturais em benefício dos indivíduos particulares; o homem é dotado de livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal; não há predestinação para alguns serem salvos e outros serem condenados, mas as recompensas e as punições (….) são determinadas unicamente pela conduta terrena do indivíduo.”

O deísmo defendido por Thomas Paine, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Denis Diderot e Jean-Jacques Rousseau propunha claramente uma religião universal. Edward Burns escreveu:

“.... O deísmo era bastante diferente do supernaturalismo racionalista. Enquanto os expoentes deste último ainda adotavam a crença na revelação, em milagres e na racionalidade do cristianismo, os deístas desfizeram-se de tudo que não concordava com suas ideias de religião natural . Afirmavam que todo mortal inteligente que seguisse a orientação da razão chegaria por fim a acreditar num Deus criador, em futuras recompensas e punições e em leis naturais e morais. Desse modo, o deísmo era tido como uma religião universal aplicável a todas as condições e climas e passível de ser descoberta tanto pelo sábio chinês como pelo nativo astuto da floresta virgem. O cristianismo era desprezado como não sendo melhor que o islamismo e, mesmo, como sendo um pouco pior, dada a malícia do seu clero e sua maior carga de dogmas místicos. Por outro lado, muitos dos deístas dedicavam profunda admiração ao nobre caráter de Jesus e alguns até tentaram provar que também ele era um deísta. Voltaire pensava ser um insulto chamar Jesus de cristão.”
A proposta de uma religião da ética universal foi enriquecida ao longo dos séculos 19 e 20. Albert Einstein, Teillard de Chardin, Mahatma Gandhi e inúmeros cidadãos de boa vontade ajudaram a prepará-la. Quanto tempo falta para que seja concluída a tarefa da sua construção? Não sabemos exatamente, mas a realização deste velho projeto parece estar mais próxima do que nunca. É possível que o sonho não tenha que esperar até o século 22 para ser realizado.
(Um Estudante de Teosofia)
NOTAS:
[1] “Los Filósofos Presocráticos”, Leucipo y Demócrito, Planeta deAgostini, Editorial Gredós, España, 1998, 308 pp., ver p. 247.
[2] “À Paz Perpétua”, Immanuel Kant, L & PM Pocket, Porto Alegre, 2008, 85 pp.
[3] “História da Civilização Ocidental”, de Edward McNall Burns, Editora Globo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo,1948, 958 pp., ver pp. 552-553
[4] “Dicionário Filosófico”, Voltaire, verbete “Religião”. (Nota de Edward McNall Burns)

Um Vasto Campo de Estudos


A Literatura da Teosofia Original
Pergunta:
Em seus estudos, o e-grupo SerAtento dá um destaque especial às “Cartas dos Mahatmas”, a “Ísis Sem Véu” e “A Doutrina Secreta”, de H.P.B. Qual é o motivo disso?
Comentário:
A bibliografia e o campo de interesse do estudante de teosofia devem ser variados. O teosofista estuda a sabedoria universal, cujo horizonte é tão vasto quanto os limites do saber humano. Por outro lado, podemos dizer que as três obras citadas formam uma grande Tríade luminosa – um triângulo de fontes de inspiração. Se a elas somarmos “A Voz do Silêncio” (de HPB) e “Luz no Caminho” (de Mabel Collins) – dois tratados místicos – teremos um pentagrama. Com “A Chave para a Teosofia”, chegamos a um hexagrama, a estrela de seis pontas – ou dois triângulos entrelaçados. E isso não é tudo. A estrela de seis pontas tem no seu centro um sétimo elemento, que é oculto, mas decisivo. O centro desta nossa “estrela bibliográfica” pode ser dinâmico. Dependendo do temperamento de cada estudante, o Centro pode ser ocupado por qualquer uma das obras citadas ou pelas coleções de textos curtos de H.P. Blavatsky. Em torno desta estrela setenária essencial há numerosas obras de valor, que se somam a ela e ampliam sua luz sem fazer com que ela desapareça. É o caso de “O Oceano da Teosofia”, de William Judge. É o caso do “Bhagavad Gita”, do “Dhammapada”, do “Tao Te King”, dos Upanixades, do “Dnyaneshwari”, dos “Aforismos de Ioga” e de tantas outras grandes obras das diversas religiões e filosofias, orientais e ocidentais. Em última instância, todo conhecimento humano que está ligado à ética faz parte do Oceano da teosofia.
Como escola de pensamento, a teosofia original propõe uma visão abrangente e evolutiva do ser humano e do universo. A teosofia autêntica decodifica para o estudante cada corrente de pensamento ou religião, cada cultura e cada dogma. Ela faz o trabalho de chave multidisciplinar universal. Isto é algo que apenas ela consegue fazer. Os imitadores da teosofia propõem caminhos mais fáceis, mas que não levam a lugar algum.
Se o estudante tomar em suas mãos as edições originais de “A Doutrina Secreta” e “Ísis Sem Véu”, ele terá cerca de 3.000 páginas de uma sabedoria que ensina a decodificar as visões setoriais e parciais da vida e do universo. O estudo destas páginas liberta a alma para a compreensão do todo. As Cartas dos Mestres dão a chave do discipulado ou aprendizado individual. Há também os 15 volumes dos 'Collected Writings' de H.P.B., e as coleções das duas revistas mensais que H.P.B. editou na Índia e em Londres, as quais incluem numerosos artigos que não são de H.P.B. e possuem enorme valor. Também há alguns livros de peso de outros autores, entre eles Damodar Mavalankar e Subba Row.
Este conjunto complexo forma um corpo de textos filosóficos sem igual na história humana.
O que chegaria mais perto da teosofia do século 19 são os diálogos de Platão, no Ocidente. Esta é outra obra relativamente ampla e abrangente. Mas Platão não decodifica sequer 5% do que HPB decodifica da sabedoria universal. Ao contrário, é H.P.B. quem explica não só a obra de Platão, mas também os outros campos do saber filosófico, religioso e cientifico.
No Oriente, o que chegaria mais perto do ensinamento de H.P.B., em termos de obra de grande porte e abrangente, seriam os Vedas hinduístas, por um lado, e o Tripitaka, o cânone budista, por outro. Mas tanto os Vedas como o Tripitaka são de um simbolismo obscuro – salvo exceções. Para serem compreendidos, dependem obviamente de um ponto de vista ou chave que é dada, não por acaso, por “A Doutrina Secreta” e “Ísis Sem Véu”.
Lao-tzu e Confúcio são outras fontes importantes. Mas eles não têm a abrangência e a profundidade dos Vedas, de Platão, do Tripitaka (Cânones Budistas) ou de H.P.B.
Entre as grandes escrituras, o Talmude judaico é vasto em tamanho e importância. Ele é tão grande quanto uma enciclopédia de grande porte e é pouco conhecido fora dos círculos rabínicos. Possui grande valor, é respeitável, tem uma ótima ética filosófica, mas não pode ser comparado ao conhecimento oriental.
As chaves do conhecimento humano estão no Oriente. A obra de HPB é essencialmente oriental. Como a própria alma de H.P.B, ela se situa em última instância naquele Oceano de Sabedoria que é a origem e o destino de todas as tradições de conhecimento antigas e modernas.
Naturalmente, o movimento teosófico não é uma igreja. O que se afirma nos parágrafos anteriores não pode ser visto como objeto de crença ou de fé. O significado da obra de H.P.B. na história da literatura humana é algo que cada um deve verificar por si mesmo. O pesquisador isento verá que não há nada nem remotamente comparável à literatura teosófica original, gerada entre 1875 e 1891.
É importante levar em conta que, ao lado da literatura de HPB, preservou-se um pequeno núcleo dinâmico de estudantes que vivem o 'clima' da compreensão do ensinamento, e que hoje está organizado em cerca de 15 países. Esta comunidade informal de estudantes da teosofia autêntica constitui uma espécie de ashram ou espaço comum de aprendizes – ; um ashram que possui a sua essência nos planos superiores de consciência.
Felizmente, já temos em língua portuguesa um trabalho ligado a este processo aberto de investigação, estudo e compreensão da teosofia original. O trabalho leva em conta que em filosofia esotérica não há mérito em dizer “amém” ao que se ouve ou lê. Vale a pena ver por si mesmo, e dialogar e examinar tudo, contextualizando sempre cada uma das percepções. O modo de trabalhar tem como princípio básico a autonomia solidária. Cada axioma da filosofia esotérica deve ser testado com independência pelo estudante.
Crises Geológicas Provocam Renovação
A Dinâmica Planetária Impede o Avanço Para o Pior
Assim como o indivíduo humano, um planeta possui sete níveis de consciência. O mesmo ocorre com cada civilização. Espírito e matéria não estão separados: a evolução geológica da Terra avança paralelamente à evolução psicológica dos homens que respiram sua atmosfera, bebem sua água e se alimentam dos frutos do seu solo. Quando a base ética e espiritual de uma civilização se esgota, este é um indício seguro de que a sua base ecológica e a sua base geológica estão igualmente exauridas. A recíproca é verdadeira: também se pode perceber o estado da ética e da espiritualidade de uma civilização pelo modo como ela convive com a natureza. É preciso saber se ela preserva a harmonia, ou se ela prepara a sua destruição ao romper o equilíbrio ambiental.
Abordando as grandes mudanças cíclicas e geológicas da Terra, um raja-iogue escreveu a um cidadão inglês do século 19:
“Quando a sua raça − a quinta − houver alcançado o seu zênite de intelectualidade física, e desenvolvido a civilização mais elevada (lembre da diferença que nós estabelecemos entre civilizações físicas e espirituais), incapaz de elevar-se em mais nada, seu avanço em direção ao mal absoluto será interrompido (como seus antecessores, os lemurianos e atlantes foram interrompidos em sua marcha no mesmo rumo) por uma destas mudanças cataclísmicas; sua grande civilização será destruída; e todas as sub-raças desta raça serão vistas decaindo ao longo dos seus respectivos ciclos, depois de um curto período de glória e aprendizado.” [1]
O século 21 não verá um evento de tamanha magnitude como o mencionado neste trecho das Cartas. Mas o que ocorre em grande escala também ocorre em pequena escala. Pequenos ciclos reproduzem grandes ciclos. A crise geológica em que nossa civilização está ingressando não se relaciona com o ciclo do conjunto da quinta raça, mas apenas com o ciclo mais breve da quinta sub-raça da quinta raça. Mesmo assim, ele apresenta em menor escala as mesmas características do grande ciclo, e é possível que seja suficientemente radical para mudar por completo o rumo da civilização humana, afastando-a do materialismo eticamente cego e colocando-a outra vez no caminho da ética e da sabedoria. Não há, porém, data marcada. As mudanças geológicas ocorrem gradualmente, impulsadas por uma longa série de eventos.
NOTA:
[1] “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Ed. Teosófica, volume II, Carta 93B, p. 120.
Dois Instrumentos Inseparáveis:
Senso Crítico e Pensamento Positivo
Estudante A:
Para alguns, o caminho espiritual parece ser feito exclusivamente de pensamentos positivos. Mas, neste caso, como será possível identificar e corrigir os erros e defeitos?
Estudante B:
O estudante que preserva o seu bom senso não perde o sentido crítico. Uma visão exotérica e emocional do caminho prefere acreditar na proposta ingênua de fazer de conta que o mundo é uma maravilha. Mas para cada ingênuo há um espertalhão, quando não é o espertalhão que se faz passar por ingênuo. O aprendiz que aprende a agir com discernimento desafia as rotinas mentais. Ele mostra as falhas dos sistemas eclesiásticos e da ciência convencional, e propõe as práticas corretas. Ele não teme apontar os erros que devem ser corrigidos, embora saiba que será testado por isso. Ele sabe que não há aprendizado sem testes.
Estudante A:
Mas qual é a diferença entre o espírito crítico e o pensamento negativo? Quando é que termina um e começa o outro?
Estudante B:
Uma primeira característica fundamental do bom espírito crítico está na intenção. O aprendiz fala dos erros com o propósito interior de que eles sejam corrigidos. A sua intenção não é destruir. As suas críticas nunca se dirigem a pessoas, mas a fatos e ações. E a crítica ao que é externo anda junto com uma auto-crítica honesta. Uma segunda característica é que o espírito crítico saudável dá o apoio e o realismo necessários ao pensamento positivo, para que ele possa ter eficiência prática. Quem possui bom senso sabe que o pensamento positivo é o fundamental e o sentido crítico é o secundário. Umaterceira característica é que o espírito crítico, quando unido ao pensamento positivo, leva o estudante à ação construtiva de longo prazo, com discernimento e confiança no futuro. A confiança no futuro resulta do contato ampliado com a alma imortal. Ela permite olhar os erros de frente sem cair no pessimismo.
Do mesmo modo que um bom médico não faz de conta que o paciente está bem, se o paciente está doente – mas anuncia com honestidade que será necessário este ou aquele tratamento doloroso para superar a doença –, também a teosofia original não finge que tudo está bem com nossa civilização. Ela mostra honestamente o caminho para corrigir o rumo.
Não há melhor carma do que o pensamento voltado ativamente para o bem da humanidade. Quem deseja o bem da humanidade e é estudante da sabedoria universal faz três coisas básicas:
1) Ele formula ou ajuda a formular um diagnóstico adequado.
2) Ele chega a um prognóstico (uma proposta saudável de futuro).
3) Ele trabalha pela superação das causas do sofrimento; e também pela construção do que é novo.
O pensamento correto não está na superfície da mente ou na simples fala. Sabemos que as palavras amáveis ocultam frequentemente segundas e terceiras intenções. Se palavras agradáveis fossem suficientes, não haveria qualquer diferença entre o sábio e o mentiroso. Em filosofia esotérica, pensamento correto é aquele que surge de uma Intenção interior que é nobre e elevada.
Assim, o pensamento severo e a fala crítica podem ser corretos. O pensamento agradável e a fala mansa podem ser causadores de grande mau carma e sofrimento. É a motivação do indivíduo perante a vida, a sua meta central e suas metas auxiliares – assim como os seus hábitos de pensamento, sentimento e ação – que direcionam e dão valor real ao que ele pensa e diz.
Vale sempre o contexto: quando o Jesus do Novo Testamento denuncia frontalmente os “sepulcros caiados” do clero profissional, ou quando ele expulsa os comerciantes do templo, o seu discurso e seu pensamento têm efeitos positivos, porque a Intenção é nobre.
000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000
O Teosofista - Notas e Informações Sobre Teosofia e o Movimento Esotérico

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Retomando a Tarefa dos Iluministas do Século 18

Os problemas de convivência humana que há hoje em lugares como Israel, Palestina, Iraque e Afeganistão – assim como a decadência ética e ecológica da civilização cristã como um todo – indicam claramente pelo menos uma coisa: o filósofo francês Paul Henri Thiry, o barão d’Holbach (1723-1789), tem algo de grande importância a dizer para os habitantes do século 21.

D’Holbach foi um dos principais enciclopedistas franceses do século 18. Em sua casa, em Paris, se reuniam alguns dos maiores filósofos do iluminismo. Vale a pena examinar o seu pensamento. D'Holbach questionava a existência de Deus, e neste sentido ele era um ateu. Porém devemos lembrar que as religiões filosóficas, como o taoísmo e o budismo, tampouco trabalham com o conceito de Deus. D’Holbach era considerado materialista, porque afirmava que existe uma identidade fundamental entre matéria e espírito. Mas nisso ele também não estava só. A identidade fundamental entre espírito e matéria é um dos princípios e axiomas centrais da filosofia esotérica original.

Em que contexto viveu e escreveu d’Holbach? Como era a segunda metade do século 18? O clero cristão ignorava a filosofia não-violenta do Jesus do Novo Testamento para justificar e abençoar em todo o mundo a escravidão dos negros, o massacre das tribos indígenas, a miséria dos trabalhadores, a violência contra os judeus, os abusos do colonialismo e as guerras nacionalistas. Na França, o povo passava fome. O clero católico e a nobreza negavam todo direito humano. A sangrenta revolução de 1789 não surgiu por acaso.

É preciso admitir que o cristianismo protestante da Inglaterra nunca caiu ao nível do catolicismo jesuítico. No país de Shakespeare, assim como em suas colônias e ex-colônias, sempre houve muito mais ética e tolerância que nos países que sofriam a influência direta do Vaticano. Isso explica a vantagem histórica dos Estados Unidos em relação a outros países das Américas. Naquela ex-colônia, a influência católica era pequena. Isso possibilitou uma admirável liberdade e diversidade religiosa.

Com a exceção da Inglaterra e da sua área de influência direta, a teocracia do Vaticano era perigosamente dominante. A ordem dos jesuítas promovia conspirações mortais contra reis. Ela usava métodos brutais de espionagem. Seus crimes provocavam revolta. Quando o carma do abuso amadureceu, a Ordem dos jesuítas passou a ser fechada em um país depois do outro, e por fim foi extinta oficialmente em todo o mundo pelo próprio Vaticano. No território luso-brasileiro, a administração do Marquês de Pombal marcou ao mesmo tempo a época do Iluminismo e a desgraça dos jesuítas. A Companhia de Jesus só foi reaberta várias décadas depois, já no século 19.

Do ponto de vista da doutrina esotérica dos ciclos, foi na última quarta parte do século 18 que começou a transição para a era de Aquário. A revolução francesa de 1789 proclamou ao mundo os ideais tipicamente aquarianos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. É compreensível, pois, que naquele momento histórico o livre-pensamento dos iluministas franceses desmistificasse a velha ideia medieval de um deus monoteísta, pessoal, manipulador, que abençoa guerras sangrentas e em nome do qual os cristãos ficam autorizados a mentir e matar.

A história humana avança em espiral. O Iluminismo do século 18 avançou até certo ponto. Cem anos depois dos enciclopedistas, o questionamento da ilusão monoteísta foi retomado fortemente por Helena Blavatsky e seus colaboradores a partir de 1875. O objetivo era libertar o pensamento ocidental das superstições da idade média, e o esforço acontecia sob a orientação direta de dois ou três raja-iogues dos Himalaias, conforme está amplamente documentado na literatura teosófica original. Não é por acaso que, ao comentar no final do século 19 a ideia de um deus monoteísta, um destes Mestres mencionava o barão d’Holbach. O instrutor escreveu:

“O Deus dos teólogos é simplesmente um poder imaginário, un loup garou [um bicho-papão], na expressão de d’Holbach. Nossa principal meta é libertar a humanidade deste pesadelo, ensinar ao homem a virtude pelo bem da virtude, e ensiná-lo a caminhar pela vida confiando em si mesmo, ao invés de depender de uma muleta teológica que por eras incontáveis foi a causa direta de quase toda a miséria humana”. [1]

O deus dos teólogos é portanto uma muleta e um pesadelo. Uma das metas do movimento teosófico é mostrar claramente este fato à humanidade. Em outra ocasião, o Mestre afirma :

“Estranhamente, descobri um escritor europeu – o maior materialista em sua época, o barão d’Holbach – cujos pontos de vista coincidem inteiramente com os da nossa filosofia. Ao ler o seu Sistème de la Nature, eu poderia ter imaginado que tinha o nosso livro de Kiu-te diante de mim”. [2]

Estas enfáticas afirmações do Mestre não deixam lugar a dúvida. Considerando que o livro de Kiu-te está fora do alcance do público e só é conhecido em parte e indiretamente mesmo pelos estudantes mais sérios de teosofia, a conclusão natural é que o pensamento de d'Holbach deve ser reconhecido como pelo menos muito importante para os que se interessam pela filosofia esotérica. No entanto, d'Hollback é ainda hoje quase completamente desconhecido. Como um pequeno estímulo e um primeiro passo na direção de preencher esta lacuna, traduzimos a seguir sete fragmentos expressivos da obra deste pensador. [3] As referências bibliográficas específicas vão ao final de cada trecho. Os subtítulos são nossos. Diz o barão d'Holbach:

1. Religião e Apego

* Na maior parte dos casos, os homens só se apegam à sua religião por hábito. Eles jamais examinam seriamente as razões pelas quais adotaram sua religião, nem os motivos da sua conduta, nem os fundamentos das suas opiniões. Desde modo, a coisa que eles consideram mais importante para eles tem sido sempre aquilo que eles mais temem aprofundar. Eles seguem o caminho que seus pais traçaram para eles. Eles crêem porque na infância lhes disseram que é necessário crer; eles têm esperança porque seus ancestrais tiveram esperança; eles tremem porque os seus antecessores tremeram; eles quase nunca se dignam a dar-se conta dos motivos da sua crença. […..] É assim que as opiniões religiosas, uma vez adotadas, se mantêm durante uma longa sequência de séculos. É assim que, era após era, os povos retransmitem ideias que jamais foram examinadas. Eles crêem que a sua felicidade está ligada a instituições que, se forem examinadas mais de perto, se revelarão como a fonte da maior parte dos seus males. A autoridade ainda vem em ajuda dos preconceitos dos homens; ela lhes impede de fazer o exame; ela os força à ignorância; ela está sempre disposta a punir todo aquele que tentar rejeitar a ilusão. […..] No entanto, nós encontramos em todos os séculos homens que, livres dos preconceitos dos seus co-cidadãos, ousaram mostrar a verdade. Mas o que pode a sua voz fraca contra os erros que são absorvidos desde a primeira infância, confirmados pelo hábito, autorizados pelo exemplo, e fortalecidos por uma política que é frequentemente cúmplice da sua própria ruína? As vozes imponentes da impostura reduzem logo ao silêncio aqueles que querem protestar em nome da razão. [ Da obra “Le Christianisme Dévoilé” (1761), edição de Londres, 1776, pp. 2-6.]


2. Superstição e Maus Hábitos

* É nos países em que a superstição tem mais poder que nós encontramos sempre os piores hábitos. A virtude é incompatível com a ignorância, a superstição, o escravismo. [...] Para a formação dos homens, para que se tenha cidadãos virtuosos, é preciso instruí-los, mostrar-lhes a verdade, falar-lhes através da razão, fazer com que sintam os seus interesses, para que aprendam a respeitar a si mesmos e a ter medo da vergonha. É preciso estimular neles a ideia de uma verdadeira honra, fazer com que conheçam o prêmio da virtude e os motivos de praticá-la. Como aprender estes efeitos da felicidade através de uma religião que os degrada, ou da tirania que busca apenas amansá-los, dividi-los, e mantê-los na indignidade? [Da obra “Le Système de la Nature”, edição Ledoux, 1821, volume 2, p. 352 .]

3. Religião Agressiva

* Uma religião cujos preceitos tendem a tornar os homens intolerantes, os reis perseguidores, e os súditos escravos ou rebeldes; uma religião cujos dogmas obscuros são motivo para eternas disputas; uma religião cujos princípios desencorajam os homens e os afastam da ideia de sonhar com seus verdadeiros interesses –; uma tal religião, digo eu, é destrutiva para o conjunto da sociedade. [“Le Christianisme Dévoilé” (1761), edição de Londres, 1776, p. 168.]

4. Os Crimes Autorizados por Deus

* Todas as religiões do mundo autorizaram crimes inomináveis. Os judeus, embriagados pelas promessas do seu Deus, atribuíram a si mesmos o direito de exterminar nações inteiras. Confiantes nos oráculos dos seus deuses, os romanos conquistaram e devastaram o mundo como verdadeiros assaltantes. Os árabes, encorajados por seu divino profeta, levaram o ferro e o fogo aos cristãos e aos idólatras. Os cristãos, sob o pretexto de divulgar sua santa religião, cobriram de sangue uma centena de vezes os dois hemisférios. [“Le Bon Sens du curé Meslier suivi de son Testament” (1772), edição Palais des thermes de Julien, p. 217.]

5. A Moral e as Virtudes

* Todas as virtudes que o cristianismo admira são exageradas e fanáticas, ou elas tendem apenas a tornar o homem tímido, indigno e infeliz ; se elas lhe dão coragem, ele se torna obstinado, altivo, cruel e nocivo à sociedade. É assim que ele deve ser, para corresponder à visão de uma religião que despreza a Terra, e que não vê problemas em trazer conflito a ela, para que o seu deus ciumento triunfe sobre os seus inimigos. Nenhuma moral verdadeira pode ser compatível com uma tal religião. [“Le Christianisme Dévoilé”, obra citada, pp. 139-140.]

6. A Fonte da Ética

* Basta que os homens reflitam um pouco sobre o que eles são, sobre os seus verdadeiros interesses, sobre a meta da sociedade, para que sintam que eles têm deveres em relação uns aos outros. Boas leis são o suficiente para forçá-los a serem bons, e eles não têm necessidade de que alguém faça as regras descerem do céu, para a sua preservação e a sua felicidade. A razão é suficiente para que percebamos os nossos deveres em relação aos seres da nossa espécie. Em que ela pode ser ajudada pela religião, que a todo momento a contradiz e a degrada? [“Le Christianisme Dévoilé”, obra citada, p. 98.]

7. Os Dois Pilares

* A ignorância e o medo; estes são os dois pilares de toda religião. [ “Le Bon Sens du curé Meslier suivi de son testament”, primeira edição 1772, edição Palais des thermes de Julien, 1802, p. 37.]

Até aqui, o barão d’Holbach.

É interessante comparar estas citações com uma das cartas mais importantes já recebidas dos Mahatmas. Diz o Mestre:

“É a crença em Deus e nos Deuses que faz de dois terços da humanidade escravos de um punhado daqueles que os enganam com o falso pretexto de salvá-los. O homem não está sempre pronto a cometer qualquer tipo de maldade se lhe disserem que seu Deus ou Deuses exigem o crime − vítima de um Deus ilusório, escravo abjeto de seus ministros astuciosos ? (.....) Durante dois mil anos a Índia gemeu sob o peso das castas, com os brâmanes engordando só a si mesmos com o melhor da terra, e hoje os seguidores de Cristo e Maomé estão cortando as gargantas uns dos outros em nome − e para maior glória − dos seus respectivos mitos. Lembre que a soma da miséria humana nunca será diminuída até aquele dia em que a parte melhor da humanidade destruir, em nome da verdade, da moralidade e da caridade universal, os altares dos seus falsos deuses.” [4]

Esta última frase constitui uma profecia significativa. É fácil perceber que a previsão do Mestre não só anuncia o futuro mas retoma – em um ciclo superior da espiral histórica – a mesma proposta básica dos enciclopedistas franceses. No início do século 21, mais de duzentos anos depois de d'Holbach, esta tarefa está por ser completada. A libertação do espírito humano será indispensável – se quisermos que se abra em nosso século o espaço necessário para a religião do futuro.

NOTAS :

[1] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Editora Teosófica, Brasília, edição em dois volumes. Ver Carta 88, vol. I, p. 55.
[2] Veja “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, obra citada, volume II, Carta 93B, p. 119. O livro de Kiu-te é uma coletânea de textos orientais esotéricos. Entre os seus principais elementos está “O Livro de Dzyan”, que serviu de base para a estrutura central da obra “A Doutrina Secreta”, de H.P. Blavatsky. (Sobre isso, ver “Collected Writings of HPB”, volume VI, p. 425)
[3] A fonte das citações de d’Holbach é a Wikipédia, e mais precisamente “Citations 'Paul Henri Thiry d’Holbach' sur Wikiquote, le recueil de citations libre”. Veja o endereço eletrônico: http://fr.wikiquote.org/wiki/Paul_Henri_Thiry_d'Holbach .
[4] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, obra citada, volume II, Carta 88, p. 61.


Volta às Atividades

Aranauam a todos.
Venho comunicar a todos que voltarei a postar informações referentes aos mais variados assuntos deste respectivo tema.
Obrigado pelos emails enviados e pelos comentários realizados, confesso que através deles, tive o real incentivo e gratificação para continuar postando.
Meus mais sinceros votos de Paz Profunda.
Neófito da Luz